Sagrada Família

Sagrada Família

A família como comunidade de amor, na individualidade de cada uma das suas diferentes pessoas, em auto doação mútua e na unidade da sua relação em permanente complementaridade, é reflexo e imagem da Santíssima Trindade.

A Sagrada Família, melhor do que qualquer outra, encarna o projeto de Deus para a família humana e revela-nos a sua dimensão transcendente.

Essa dimensão transcendente, invisível tanto em Nazaré, como hoje nas nossas próprias famílias, torna-se visível aos olhos da fé e é-nos sugerido, de forma simbólica, através da imagem.

O mistério da realidade transcendente que envolve a sagrada família, é simbolizado na parte superior da composição totalmente preenchida por um semicírculo (esfera celeste) no qual se desenha um triângulo (Santíssima Trindade) e no centro dos quais se vê uma pomba (Espírito Santo). Dele irradiam formas luminosas que simbolizam o amor e o poder criador e santificador de Deus.

A cor (na sua gama de vermelho ao amarelo dourado e ao branco) simboliza, simultaneamente, o fogo e a glória de Deus que inunda o universo e ilumina e transfigura as pessoas de Jesus, Maria e José.

As três figuras estão de pé sobre um semicírculo (esfera terrestre) que ocupa a parte inferior da composição e estão descalças, simbolizando não só a pobreza e humildade, mas, sobretudo, a sua realidade física de pessoas humanas que pisaram a materialidade da terra e viveram uma realidade histórica concreta. Apesar disso, a imagem não invoca uma situação ou uma narrativa; propositadamente, nela coincidem várias dimensões do tempo: - o tempo em que Jesus, pela Sua Incarnação viveu como criança no meio dos homens, o despertar da sua consciência para a missão (o adolescente) e nela o tempo da sua crucifixão redentora (a forma clara vertical sobre a qual se desenham os pés e uma forma horizontal que divide a meio a composição e o tempo da glorificação (o espírito como que rasga as nuvens sobre as quais uma fina linha vertical, a vermelho, desenha a cruz).

No entanto também está presente o tempo da promessa. Ele é aquele sobre quem Isaías anunciou que repousaria o Espírito de Deus, razão por que, ao redor da sua cabeça, se vêm as linhas de fogo, prefiguração do Pentecostes e do dom do Espírito Santo a todos aqueles que, pelo baptismo, se tornam filhos de Deus, à imagem do Filho.

A figura de Jesus é o centro da composição. Ele é a pedra angular e estabelece a união entre as duas esferas e entre as figuras da Virgem Maria e de S. José. Se na família humana o filho é fruto do amor dos pais e traço de união entre eles no sacramento do matrimónio, Cristo é a pedra angular da unidade na verdadeira caridade.

O menino encontra-se vestido com uma túnica branca, simbolizando a sua Ressurreição. Com os braços abertos (crucificado), as suas mãos descansam confiantes, ternas e temerosas nas mãos de Maria e de José. Estes não agarram nem prendem o menino: amparam-no e como que O impelem a caminhar.

A atitude da virgem Maria é a de atenção ao filho através da interioridade, de meditar no seu íntimo os acontecimentos e sinais à luz da palavra que da parte de Deus lhe foi anunciada e que nela incarnou. A sua mão esquerda repousa sobre o seu coração ao mesmo tempo que a envolve no manto do silêncio e do mistério.

A atitude de José é a do Justo, disponível para ouvir, entender e aceitar a vontade, por vezes incompreensível de Deus e a agir em conformidade. A sua posição é menos estática, mas interiorizada. Tal como a figura da Virgem, sustenta e anima o menino; sua mão direita ergue-a ao alto em gesto de louvor, de súplica e de obediência, gesto também de autoridade aceite como responsabilidade e serviço.

A túnica da Virgem Maria, azul, rosa e violeta, lembra o céu, a aurora e também a futura paixão; a de S. José em tons vermelhos e púrpura, referem-no à descendência real da casa de David.

A família de Nazaré, ilustra de forma exemplar, a necessidade do harmónico exercício dos diferentes carismas do feminino e do masculino para o pleno desenvolvimento da vida e da vocação do homem, sobretudo na família. Por essa razão as figuras de Jesus, Maria e José, se inscrevem num triângulo semelhante àquele que, na parte superior da composição, simboliza a glória de Deus Uno e Trino.